Escrito por: Paulo Costa (@PauloDroopy) e Jhon
Revisado por: Gabriel Barnabé (@GB_Barney01)


O que é homeschooling?

Homeschooling é um termo da língua inglesa o qual denomina a modalidade de ensino domiciliar, caracterizada pela instrução particular do aluno, feita por um responsável, geralmente um membro da família ou um ou mais tutores particulares. O Homeschooling tem duas variantes mais praticadas, sendo uma delas o ensino paralelo à escola tradicional e a outra, mais comum, de período integral. O objetivo principal desse método de período integral é remover a terceirização da educação, tornando-a mais adaptável ao aluno, se ajustando ao seu ritmo de aprendizado, com intuito de extrair o máximo de seu potencial individual, o qual é ignorado ou até suprimido pelo sistema educacional das escolas.

Qual é a proposta?

As dificuldades presentes no ensino brasileiro são muito conhecidas, especialmente em escolas públicas. Diversos são os relatos dos mais absurdos eventos, tais como o constante uso de drogas, criminalidade e até depredação do ambiente escolar em busca de fios de cobre para o comércio, como mencionado no artigo “Em Defesa do Homeschooling” [1]. Pais que se preocupam com a educação recebida pelos filhos e entendem o valor dela, tanto na formação do caráter quanto no mercado de trabalho, não querem correr o risco, tanto físico como intelectual, de manter os seus filhos em instituições com esses aspectos. Além disso, existem casos de crianças portadoras de necessidades especiais as quais são obrigadas, através do uso da força justificada pela legislação, com a desculpa de terem seus pais detidos pelo crime de abandono intelectual [2]. Esses são os principais efeitos da planificação do ensino. É óbvio que existirá demanda para métodos mais eficientes, como a tutoria particular especializada nesses casos, assim como ocorre em todos os setores da economia.

Tendo em vista esse panorama de dificuldades, o homeschooling é uma ideia a qual propõe uma alternativa tanto aos pais quanto aos estudantes, para obter um ensino de qualidade e que se encaixe nos perfis envolvidos, mas que foi inexplicavelmente proibido pela legislação brasileira, sendo considerado como um crime de abandono intelectual, como mencionado anteriormente, gerando casos jurídicos com penas as quais variam de detenção de 15 a 30 dias ou multa de 3 a 20 salários de referência aos pais praticantes. Contudo, todos os argumentos utilizados pelo STF para mantê-lo ilegal foram respondidos em um artigo feito exclusivamente para refutar os argumentos dos ministros [3].

Flexibilidade

Um dos pontos positivos do homeschooling é a flexibilidade: o potencial de se adequar a um aluno específico, levando em conta todos os fatores para que o proveito seja o maior possível. A distinção entre duas pessoas requer muito convívio e observação, especialmente nos estágios iniciais de desenvolvimento intelectual. O sistema atual de planificação do método de aprendizagem, não leva em consideração tais características distintas entre os alunos de uma mesma sala, essenciais para extrair um bom rendimento deles e despertar maior interesse aos estudantes.

Além disso, os métodos de aprendizagem em si podem ser alterados. Alunos têm perfis diferentes e funcionam melhor com metodologias distintas, adaptadas a cada um deles. Muitas vezes com leitura, outros com exercícios, experimentação ou até mesmo com repetição. E todos esses métodos são aceitáveis (possíveis). Embora discutíveis, não cabe a nós decidirmos o que é mais adequado ao outro. Essa norma vale tanto para a educação quanto para qualquer outra condição humana. Cabe aos pais ou responsáveis pela guarda e, consequentemente, responsáveis pela aprendizagem dos filhos decidir (ou desenvolver) um método eficiente, dadas as condições por eles observadas, vide os problemas e facilidades que cada criança tem quanto ao aprendizado.

Uma criança com necessidades especiais é a mais beneficiada por isso. Ela tem a opção de seguir seu próprio trajeto, sem a necessidade de reprovar múltiplas vezes em uma escola comum ou ser “empurrada” todos os anos, o que acarretaria em uma óbvia falha em seu aprendizado, gerando o oposto do desejável: nenhum apreço pelo conhecimento e o fracasso na vida acadêmica. Priorizar horários mais produtivos, adequar a rotina às atividades paralelas como lutas, esportes e danças e conciliá-los com momentos de lazer com amigos e família são grandes motivos os quais explicam o sucesso deste método, acabando com o mito de que crianças as quais passam pelo método de homeschooling não socializam com outras pessoas. Elas não só interagem com diversas pessoas, como não ficam presas à interação quase que exclusiva de crianças da mesma idade. [4]

Proliferação de valores

Desde a antiguidade os pais se preocupam com quais valores serão passados para a próxima geração. Esse é um processo natural com o nobre objetivo de presenciar a evolução dos filhos perante os pais quando crianças. Comparar as condições iniciais de ambos e notar como os métodos evoluíram e os recursos estão mais abundantes e acessíveis é um exercício interessante para sentir-se orgulhoso do árduo caminho de aperfeiçoamento. Um bom exemplo é o caso das tecnologias modernas, que a geração passada mal compreende em sua própria esfera, mas que hoje é um fator essencial em praticamente todos os setores, inclusive na pedagogia.

Quem seria capaz de imaginar tanto avanço em tão pouco tempo? É realmente extraordinário. Contudo, ao contrário do que normalmente se pensaria, o raciocínio não se encerra com cenários sobre os indivíduos e seus recursos, pois pode ser ainda mais ampliado neste caso para o âmbito familiar. Em anos de experiência, se aprende muito sobre diversos assuntos, e uma parcela deles, inclusive nunca verbalizado por quem os aprendeu. Esses valores podem variar por conta de religião ao comportamento cordial, como modos, tradições familiares e etiqueta.

O Homeschooling incentiva essa passagem de valores, especialmente quando lembramos que mesmo estando em uma função pedagógica, os pais continuam sendo pais, e são os mais interessados na prosperidade futura de sua prole e das suas futuras gerações. Muitas vezes, na escola, há divergências entre os mandos do professor e as ações do aluno, ensinadas pelos pais em casa. Em alguns casos, informações recebidas em casa e na escola, por serem ambientes diferentes e propagadas por agentes também diferentes, podem causar confusão ou até mesmo exclusão, no caso de ideias antagônicas. Esse problema afeta principalmente as ciências humanas, pois as ciências exatas, como o própria nome sugere, são exatas.

Alegações de “doutrinação ideológica” estão cada vez mais frequentes no meio colegial, com professores perdendo seus empregos, alunos sendo mudados de instituições, dentre outros fenômenos. Não cabe aos propósitos desse artigo justificar as razões e as consequências desses fenômenos, não obstante, é tanto lógico como experimental concluir que todos os seres humanos tendem a um lado. A história, por exemplo, é uma ciência a qual depende muito de pontos de vista e interpretações subjetivas, uma vez que, para ser passada aos alunos, o professor deve primeiramente dominar o conteúdo, sendo assim, na maioria das vezes, parcial sobre certos assuntos, especialmente quando também envolvem as áreas políticas, filosóficas e econômicas, constantemente abordadas pela história.

Ao contrário do que se prega, a escola não é, definitivamente, um ambiente de pluralidade de ideias. Por mais assustador que seja, os conteúdos apresentados em todas as escolas brasileiras é praticamente o mesmo, variando levemente na metodologia de ensino apenas. Com praticamente nenhuma elasticidade na grade curricular, tanto por ordem do Ministério da Educação e Cultura, que dita as cargas horárias mínimas de cada disciplina quanto pelos conteúdos cobrados em vestibulares, também grande preocupação dos quais desejam avançar na vida acadêmica.

É importante salientar que não há nada de errado em pais os quais desejam uma educação religiosa, em vez de uma mais plural, assim como pais que preferem uma educação militar à uma tradicional, por exemplo. É um tópico subjetivo, o qual deve cernir apenas aos pais ou detentores da guarda das crianças e que já acontece atualmente em escolas católicas e militares. A diferença é: no sistema de educação domiciliar, os pais têm mais liberdade para se adequar aos propósitos por eles decididos, além de um controle aprimorado da forma com que serão passados os conteúdos, as suas vivências pessoais, além de criar laços familiares mais estreitos e duradouros. Seja como for, o aluno, ao atingir certa idade, poderá por si só filtrar informações e estudar por conta própria, tendo a liberdade de fazê-lo, o que implica também na liberdade de errar.

Individualismo e autodidatismo

A maioria das pessoas já tirou dúvidas com os pais enquanto fazia as tarefas escolares, especialmente quando se trata de um tópico já dominado por eles. Ser ajudado de forma tão próxima facilita a absorção do conteúdo e, inclusive, justifica a eficiência de professores particulares e o alto custo cobrado de hora/aula por eles. Essa proximidade, além de ser extremamente eficiente e produtiva, incentiva os alunos a buscarem informações além das passadas pelos tutores. Isso ocorre por diversos motivos, incluindo o gosto especial de aprender um conteúdo novo ou difícil (desafiador), em que ao acertar questões e resolver problemas, ocorrem espasmos de orgulho e felicidade.

Ao abusar da flexibilidade do método anteriormente apresentado, é possível imaginar todo o potencial armazenado de técnicas combinadas, como, por exemplo, um estudante com muita habilidade lógica matemática e dificuldade em biologia, que, como um projeto paradidático, começa a aprender programação com o objetivo de desenvolver um software que mostre partes de células, organelas, funções e organização de tecidos. Durante esse processo ele desenvolverá novas habilidades como a linguagem de programação, reforçará conhecimentos já adquiridos no que tange a matemática e se aproximará ainda mais da biologia. Procedimentos como esse são muito didáticos para mostrar o real potencial do homeschooling. Em uma escola com os padrões atuais seria muito difícil encaixar algo assim em uma turma, pois muitos não se identificariam, enquanto poucos apoiariam a ideia, resultando muitas vezes na não realização devido às discrepâncias.

Outro fator conflitante é o professor, o qual muitas vezes tem dificuldade de interagir com a turma, seja por obsolescência em seu método ou por algum outro motivo, como a própria falta de estrutura ou tempo para dar uma atenção individual para os alunos. Estes, muitas vezes, têm o desejo de se aprofundar em um determinado conteúdo, desenvolver algum projeto mais elaborado, mas o professor não propicia as condições desejadas, por falta de tempo ou excesso de trabalho (já que os professores não são exclusivos de uma turma), uma vez que os professores têm que desenvolver aulas e preparar conteúdo para diversas turmas diferentes.

Voltando ao exemplo do estudante o qual criou o software: fica implícito que ele teve de ir atrás de informações extras para complementar o desenvolvimento do seu projeto. Ele mesmo se incentivou a procurar soluções para os problemas, a pesquisar e estudar por conta própria um assunto do qual ele não possuía um conhecimento tão aprofundado, neste caso, programação. Lembrando que existem muitas possibilidades, como uma garota que goste de artes e tenha dificuldade em química. Ela pode desenvolver infográficos, modelos atômicos com técnicas plásticas, ou até mesmo recriar a tabela periódica com ilustrações respectivas às funcionalidades práticas dos elementos.

Para encerrar, a educação domiciliar incentiva direta e indiretamente a individualidade e o autodidatismo, acostumando o aluno, desde cedo, a procurar métodos para resolver problemas de formas mais criativas e eficientes. Essas são habilidades extremamente valiosas nos dias de hoje, sendo que a demanda por profissionais com estas mentalidades de autoaperfeiçoamento e inovação estão cada vez maiores.

Referências bibliográficas:

[1]: SILVA, Paulo. A. C. da. Em Defesa do Homeschooling. Gazeta Libertária. Disponível em: <https://gazetalibertaria.news/paulodroopy/em-defesa-do-homeschooling/>. Acesso em 14 Jul 2020.

[2]: CP – Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940 Art. 246 – Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar:
Pena – detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

[3]: CÉSAR, Mário. Refutando o acórdão do STF sobre homeschooling. Gazeta Libertaria. Disponível em:
<https://gazetalibertaria.news/mariocesar/refutando-o-acordao-do-stf-sobre-homeschooling/>. Acesso em 14 Jul 2020.

[4]: LIMA, Raphaël. Educação domiciliar: socialização e resultados. Ideias Radicais. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Y8l4YJtfs-U>.


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